sábado, 2 de março de 2013

Economia do País patina e cresce 0,9% em 2012

Perdendo para todos os países dos Brics, Brasil completou dez trimestres consecutivos de alta inferior a 1%
Rio Empresários reduziram seus investimentos ao patamar de 2009, no auge do impacto da crise externa, e o Brasil teve o pior desempenho entre as grandes economias fora da Europa.

O setor de Serviços, que engloba diferentes atividades, ocupa espaço e hoje responde por 69% do Produto Interno Bruto brasileiro FOTO: JL ROSA

Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) - a soma das riquezas geradas no País - do ano passado, divulgados ontem, mostram que a esperada retomada da produção nacional segue em ritmo abaixo das expectativas e desencorajam expectativas mais otimistas para o futuro próximo. Apesar dos sucessivos pacotes de estímulo ao crédito e alívio tributário, a expansão do PIB foi de apenas 0,9%, e o país completou dez trimestres consecutivos de alta inferior a 1% -que seria o mínimo para os 4% anuais almejados pelo governo.
A renda per capita ficou praticamente estagnada, com variação de 0,1% e valor de R$ 22,4 mil por habitante.

O período mais longo de crescimento baixo ou medíocre desde o Plano Real está diretamente relacionado ao retrocesso dos investimentos, ou seja, dos gastos em obras e compras de equipamentos destinados a ampliar a capacidade produtiva.

Investimentos
Apesar de uma modesta recuperação no final do ano, empresas e governos investiram o equivalente a 18,1% do PIB, no segundo ano de queda do percentual, que já era um dos mais baixos entre os principais emergentes.

Também caiu a parcela da renda nacional poupada para financiar os investimentos, que não passou de 14,8%, a menor em uma década. Líderes mundiais de crescimento, China e Índia investem mais de, respectivamente, 35% e 45% do PIB. A administração de Dilma Rousseff fixou como meta uma taxa de 25% para sustentar um crescimento duradouro.

As causas da retração dos investimentos são motivo de controvérsia. O governo culpa as incertezas do cenário internacional; analistas de linha liberal culpam o intervencionismo do governo. Ainda que a crise de endividamento na zona do euro tenha causado desaceleração generalizada, os números brasileiros estão entre os piores do G-20, o grupo das principais economias mundiais.

O país é superado por todos os emergentes da lista, incluindo China, Índia e Rússia, os latino-americanos México e também a Argentina e os asiáticos Indonésia e Coreia do Sul.

Os desenvolvidos EUA, Japão e Austrália também se saíram melhor no ano, embora venham apresentado resultados mais fracos se considerado um período mais longo.

Desemprego baixo
A vantagem brasileira é que a freada do PIB não levou à alta do desemprego, hoje em níveis historicamente baixos. Com isso, o consumo das famílias permanece em expansão, mesmo sem o fôlego de anos anteriores.

O aumento foi de 3,1% em 2012, o suficiente para evitar um encolhimento da economia, mas a taxa, em elevação contínua desde 2004, foi a mais baixa do período. Graças às compras das famílias, o setor de serviços, que reúne atividades tão diferentes quanto escolas, empregadas domésticas, comércio e bancos, escapou da contração sofrida pela indústria e pela agropecuária.

Alvo preferencial das medidas oficiais, a indústria reduziu sua participação no PIB, de 30%, em 2004, para 26%. Os serviços ocuparam o espaço -e os empregos- e hoje respondem por quase 69% do produto. Mais resistente a solavancos, o setor é menos produtivo e propenso a inovações, o que ajuda a explicar a atual pasmaceira.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Setor produtivo deve ser foco
No ano passado, mercado e governo erraram bastante na previsão do PIB. No início do ano, os mais otimistas davam conta de um crescimento de 4%. Depois, essas expectativas foram se deteriorando, e, no fim do ano, já se tinha um indicativo de que o crescimento seria em torno de 1%. Assim, o resultado divulgado ontem não trouxe surpresas.

Em 2012, países como México, Peru e Venezuela, dentre outros, cresceram mais que o Brasil. Nós só fomos melhor que os países europeus, que enfrentam uma crise econômica. Nós continuamos crescendo, mas a uma taxa decrescente. A crise europeia contribuiu para desacelerar o nosso crescimento, mas nós também temos problemas internos, como a taxa insuficiente de investimento produtivo na economia brasileira.

Neste ano, também começamos com uma expectativa mais positiva. O mercado acredita em um crescimento da economia brasileira entre 3% e 3,5%. Para que este patamar seja alcançado, é preciso que haja a manutenção dos estímulos fiscais e que a taxa de investimento produtivo da economia seja elevada, pois o modelo de crescimento muito calcado na expansão do consumo encontra limites.

O governo vem anunciando a expansão de investimentos e de mecanismos para fomentar o investimento privado no Brasil, que é hoje um dos países que mais atrai investimento produtivo estrangeiro. Se continuarmos neste caminho, acredito que conseguiremos atingir a previsão de crescimento para 2013.

Ricardo Eleutério
Economista

Tombini vê retomada do investimento
São Paulo e Londres. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou ontem que a economia está se recuperando gradualmente e que essa tendência deve continuar nos próximos anos. Ao comentar o crescimento da economia em 2012, Tombini destacou a retomada dos investimentos no quarto trimestre e a tendência de que estes sejam impulsionados pelos estímulos e pelas perspectivas de crescimento. "Os sólidos fundamentos e um mercado interno robusto constituem um diferencial da economia brasileira, de modo que, mesmo diante de um ainda complexo ambiente internacional, o atual ciclo de crescimento tende a continuar nos próximos anos", disse, em nota.

Em comentário sobre o PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o País criou condições para que o crescimento volte ao patamar acima de 4% ao ano.

"A demanda doméstica continuou sendo o principal suporte da economia, como sugerem, pelo lado da oferta, o desempenho do setor de serviços; e, pelo da demanda, o do consumo das famílias, que tem sido estimulados pela expansão moderada do crédito, pela geração de empregos e de renda", avaliou Tombini.

Passado
A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmou que a expansão de 0,9% do PIB em 2012 "reflete o passado" e que a economia brasileira já dá sinais de recuperação. "O resultado do PIB era esperado e ele reflete o passado, principalmente a crise que nós tivemos com a indústria. As informações começam a mostrar a recuperação da economia brasileira para os investimentos", disse, em Londres, onde participou de um seminário sobre projetos de infraestrutura para investidores estrangeiros.

Mantega admite crescimento pífio
Brasília Embora reconheça que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) ou a soma das riquezas produzidas no país, em 2012 ficou "abaixo das expectativas", o ministro da Fazenda, Guido Mantega, considera que a economia está em "recuperação". O país registrou um crescimento econômico de apenas 0,9% em 2012, inferior aos 2,7% de 2011 e o menor desde 2009, quando houve queda de 0,3%.

Segundo o ministro, esta trajetória pode ser observada no contínuo crescimento do PIB ao longo dos trimestres em 2012. No último trimestre, o PIB avançou 0,6% em relação ao terceiro trimestre, acima da taxa de 0,4% do período de junho a setembro na comparação com ajuste sazonal (livre dos efeitos típicos de cada período).

"O importante é esse movimento da economia, porque ela está acelerando de forma gradual e (esta aceleração) continua em 2013. Já temos dados do primeiros meses do ano que mostram que essa trajetória de aceleração está se mantendo", afirmou Mantega.

"Do ponto de vista do investimento foi muito igual à trajetória de 2009." Segundo ele, nos dois anos houve resultado negativo do investimento do primeiro ao terceiro trimestres e, no quarto, recuperação. "Agora deve se acelerar ao longo de 2013", estima.

O ministro disse que o que explica, em parte, esse mau desempenho da Formação Bruta de Capital Fixa (FBCF) em 2012 foi a baixa venda de caminhões. Ele afirmou que a área da construção civil cresceu mas, no caso de máquinas e equipamentos, houve desempenho negativo forte, porque a venda de caminhões foi reduzia no ano passado.

2013
O ministro espera que o PIB cresça entre 3% e 4% em 2013 e que espera que as medidas de estímulo tomadas pelo governo no ano passado surtam efeito neste ano. "A desoneração da folha de pagamento só entrou plenamente em vigor em janeiro deste ano, a queda da taxa de juros demora a surtir efeito, a redução da tarifa de luz começou em 2013", citou.

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